Nossa histótia

Conheça a história da Feira dos Importados de Taguatinga que há 27 anos luta pela regularização fundiária de sua área de funcionamento

No ano de 1996, os vendedores ambulantes que comercializavam seus produtos na região central de Taguatinga, tiveram que se deslocar para uma área que foi cedida a eles pelo próprio Governo do Distrito Federal (GDF). O espaço, com quase cinco mil metros quadrados (área total 4.899,55 m²), foi onde começou o que hoje chamamos de Feira dos Importados de Taguatinga. “O governo reservou o espaço, nos deu a autorização de uso e, com isso, os feirantes vieram do centro de Taguatinga para cá. Eles se acomodaram aqui, fizeram uma estrutura mínima, e assim o tempo foi passando e estamos aqui até hoje”, conta o presidente da Associação da Feira Central de Taguatinga, Orlando Batista dos Passos Filho, mais conhecido por Orlandinho.

Assim que a feira foi criada, seus fundadores à época tiveram a ideia de criar uma associação – cuja primeira presidente eleita foi a senhora Vilermina – para poder organizar e representar os feirantes que começavam a se instalar em uma área, até então, deserta, cuja destinação do local só foi possível em razão de uma lei proposta na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) pelo ex-deputado distrital, Wasny de Roure.

Época em que a feira estava sendo construída, já é possível ver os espaços de cada box

“No começo, os feirantes só tinham um espaço de 2.10 x 1.10. Era somente esse espaço, nem banheiros tinha. O feirante vinha para cá de manhã, montava sua barraca, trabalhava algum tempo, depois desmontava sua barraca e ia embora no final do dia”, relata o Orlandinho.

Quem viveu este período inicial da feira conta que no início as condições para trabalhar eram muito difíceis. É caso da proprietária do boxe 433, a senhora Nadima Barreto Garcia, que é conhecida como Baiana, e que está na feira desde 1998. “Toda minha vida foi feita aqui. Criei meus filhos trabalhando aqui. Hoje é uma ótima feira, mas no começou foi muito sacrifício, trabalhávamos na poeira, na lama, de baixo de sol e de chuva. O começo foi muito sofrido”, lembra a senhora Nadina, que ainda hoje mantém sua banca de lanches e salgados.

Outro que viveu este começo da formação da Feira dos Importados de Taguatinga foi Silso Melo, que também trabalha na feira com o comércio de eletrônico. Segundo Silso, que inclusive estava junto das pessoas que vieram pela primeira vez conhecer o terreno, a feira começou de forma simples, e que com pouco tempo foi se tornando referência para toda região de seu entorno. “Eu cheguei aqui quando ainda era mato. Eu, o Gilberto Vaz, e outros fomos os primeiros a começar a montar banca onde hoje é a feira. Aqui ainda era pouco habitado, por isso o começo foi muito difícil, porque não tínhamos cobertura, energia elétrica, banheiro, nada”, lembra.

Feirantes; Silso Melo (à esquerda) e Gilberto Vaz, quando ainda feira funcionava no centro de Taguatinga

As melhorias da infraestrutura na feira só vão começar a ocorrer a partir do final dos anos 90 e começo de 2000. “No final dos anos 90 fizemos o primeiro pavimento do prédio que hoje funciona a sede da associação e é o setor administrativo da feira. Os banheiros também foram feitos no começo de 2000”, diz Orlandinho.

Corredor Princinpal de Feira, e a sede da associação em 1998

As primeiras melhorias na infraestrutura só vão começar a partir do final dos anos 90 em razão da organização dos próprios feirantes

Hoje, a Feira dos Importados de Taguatinga é um centro comercial referência na região que abrange as cidades de Vicente Pires, Samambaia, Recanto das Emas, Águas Claras, Ceilândia, Brazlândia e até Águas Lindas de Goiás. Com 445 boxes diversificados em lojas de vários segmentos, como roupa, produtos naturais, restaurantes, informática, conserto de celular, assistência técnica, som automotivo, vestuário, ótica, tabacaria, atacadistas, produtos eletrônico, e entre outros, a feira é também uma grande geradora de emprego – levantamento feito em 2015 mostrou que cerca de 1.500 pessoas trabalham diretamente na feira e mais 6 mil são ligadas de forma indireta.

“Nós tentamos oferecer as melhores condições para os clientes. Queremos que ele venha para feira e se sinta à vontade por estar aqui, de aqui fazer suas compras, trazer seus parentes, seus familiares”, diz Orlandinho.

Resistência

A história da Feira dos Importados de Taguatinga é o exemplo de que a organização e comprometimento são indispensáveis quando se fala em prestação de serviço. O espaço, que é por natureza um equipamento público, só conseguiu sobreviver todos esses anos em razão da união dos próprios feirantes que por meio da associação sempre conseguiram manter o espaço em funcionamento com o máximo de qualidade e segurança possível. “Toda infraestrutura restante foi feita pelos feirantes por meio da associação. Às vezes, quando tem um administrador ou outro, com uma boa vontade de nos ajudar, eles também esbarram na questão legal, porque nós não temos o lote definido, e porque a feira não está regularizada”, explica Orlandinho.

Demarcação da área da feira à época de sua construção

Conforme explica o presidente da associação, o “polígono no qual se desenha a feira” não existe. Ou seja, na prática, a feira funciona em uma área que, legalmente, ainda não é sua. “Se você entrar no site da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação você vai ver que onde está localizada a feira é um espaço branco, não foi criado o lote. E isso nos gera problemas em relação ao Estado. A Feira não existe para o Estado, ela existe fisicamente, mas legalmente para o Estado não existe. Então, estamos nesse limbo, e queremos achar uma saída para este problema”, diz.

Consequências

A falta da regularização do terreno da Feira dos Importados de Taguatinga, segundo explica Orlandinho, gera uma série de dificuldades que poderiam ser facialmente resolvidas por repasses de recursos públicos via governos ou por meio de emendas parlamentares, ou fazer parte do orçamento impositivo da CLDF. Mas isso, em razão da falta de regularização fundiária, fica impossibilitado de ocorrer.

orlando passos
Orlando Passos, o Orlandinho, presidente da associação responsável pela administração da Feira dos Importados de Taguatinga

“Com a regularização fundiária a feira vai ter, de fato, a destinação de uma área. E, com isso, o mais importante, que é o cerne de toda questão que envolve a regularização da feira, é que uma vez a feira regularizada, o Estado poderá fazer aportes para melhorar a nossa infraestrutura, e assim melhorar a experiência do usuário que nos visita e dos funcionários que aqui trabalham”, afirma Orlandinho.

Hoje, os principais problemas que a feira enfrenta em relação à sua infraestrutura são telhados e pisos deteriorados. Segundo o presidente da associação, os danos não causam risco aos clientes e funcionários, mas que poderiam ser facilmente resolvidos caso o poder público pudesse fazer intervenções na feira.

5314bd6a 74bf 48b0 8aeb 82cf821f6789

No corredor interno da feira é possível ver as falhas no piso;

De acordo com Orlandinho, a única contribuição que o poder público consegue dar à feira é através do empréstimo de mão de obra através de funcionários da Administração Regional de Taguatinga. “Nós sempre decididos fazer as coisas acontecerem e não ficar esperando pelo Estado. Isso de certo modo, no decorrer desses 26 anos, nos fez aprender que para algumas coisas não vale a pena ficar esperando pelo Estado, se a gente quiser que as coisas aconteçam, precisamos arregaçar as mangas e fazer acontecer”, diz.

59e4a301 0686 4485 8fb8 916faa44a35f

Senhora Nadima Garcia, que trabalha na feira desde 1998

A senhora Nadima Gárcia também concorda que os principais problemas que a feira enfrenta hoje em relação à sua infraestrutura é a falta de reforma do telhado e do piso. “Se consertar o telhado, melhorar o piso, a feira ficaria ótima. Nós aqui já somos um bom espaço, precisamos apenas de uns retoques”, conta.

Solução

Realmente a infraestrutura da Feira dos Importados de Taguatinga, devido toda sua limitação por não receber dinheiro público, é uma local bastante organizado. Conforme nossa reportagem constatou, os corredores entre os boxes são limpos, toda área no entorno da feira é monitorada por câmeras de segurança – são 64 câmeras de segurança na parte interna e 16 câmeras parte externa – além de ter três mil metros quadrados de estacionamento (que poderão ser ampliados em breve), sala para brigadistas e seguranças, praça de alimentação e banheiros higienizados.

9b336168 2c3a 46e6 b843 2ce5ab26d7d4

Sala para brigadistas e de apoio aos serviços de manutenção da feira

Mas conforme ressalta Orlandinho, toda essa força de vontade dos feirantes em continuar fazer da Feira dos Importados de Taguatinga um importante centro comercial também esbarra na regularização fundiária.

Por isso, do ano passado para cá, duas audiências públicas já ocorreram para tratar sobre o assunto. De acordo com o presidente da associação, a proposta já conta com apoio do administrador regional de Taguatinga, Renato Andrade dos Santos, e o deputado distrital Thiago Manzoni (PL)

5cd60edd 7ffc 4cfa 9817 614798b4f786

“Agora os próximos passos possivelmente será a criação de um Projeto de Lei que busca a criação do lote e a regularização da feira. A partir daí, passará para a sanção ou veto do governador. Eu imagino que o processo está sendo tratado de forma celeri e em breve teremos novidades”, afirma Orlandinho. “A regularização é uma luz no fim do túnel que está brilhando cada vez mais forte para nós”, reforça.

A Feira dos Importados de Taguatinga está localizada na Área Especial nº 7, ao lado da Escola Classe 1 e ao lado do Hospital São Vicente. Seu horário de funcionamento é das 8h às 18h, de terça a sábado, e das 8h às 15h, aos domingos.